Editorial: Um dia modorrento!!! 05/05/2023

Sabe aquelas histórias modorrentas que não servem para nada, a não ser para deixar o dia mais modorrento ainda?

Para quem não sabe, no sentido denotativo da palavra, modorrento significa sonolento.

E é exatamente isso o que aconteceu na quarta-feira desta semana.

Como você sabe, a Polícia Federal desembarcou na casa do ex-presidente Jair Bolsonaro e da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, para cumprir um caprichoso mandado de busca e apreensão contra o casal.

Bem, não precisamos lembrar o ouvinte de que a tal ordem judicial partiu da Suprema Corte, o STF (Supremo Tribunal Federal).

A ação, entretanto, originou-se das entranhas da Operação Venire, deflagrada no inquérito das milícias digitais, cuja relatoria é nada mais nada menos do que a do ministro Alexandre de Moraes, o responsável pela atuação da Polícia Federal na casa do ex-presidente da República na quarta-feira.

Tudo bem que suspeitas de desvios de recursos públicos, fraudes, corrupção, enfim, todas essas figuras criminais com as quais você já está bastante familiarizado nos últimos anos, principalmente em se tratando do aspecto político da coisa, devem sim ser investigadas, apuradas; e os responsáveis, punidos no rigor da lei.

E, com relação a isso, nenhum de nós aqui se posicionaria contrário à lei, já que, em tese, ela deve ser cumprida.

Mas convenhamos, a própria PGR (Procuradoria-Geral da República) posicionou-se contrariamente ao mandado de busca e apreensão na casa do ex-presidente e da ex-primeira-dama.

Para quem não sabe, a PGR, no caso, é a acusadora, pois está no escopo de acusação do arcabouço judiciário, isto é, a instituição não é de defesa.

Pela manifestação, assinada pela vice-procuradora-geral da República, Lindôra Araújo, a ação da Polícia Federal não deveria ter acontecido, já que não havia elementos que servissem como indícios que vinculassem o casal aos supostos fatos ilícitos descritos  na representação da Polícia Federal.

O ministro Alexandre de Moraes acatou parte dos argumentos da Procuradoria, porém, rebateu dizendo que a ação era necessária devido ao exposto e notório posicionamento público de Jair Bolsonaro contra a vacinação.

Ora, tal argumento parece soar um tanto quanto tendencioso.

Mas, enfim, a cena foi ao ar e, conforme noticiado pelas mídias de forma geral, a Polícia Federal fez as buscas, apreendeu o celular do ex-presidente e o da ex-primeira-dama.

Porém, o aparelho dela foi devolvido posteriormente.

Isso ocorreu em função de o ministro Alexandre de Moraes concordar com a PGR no tocante à Michelle Bolsonaro, ou seja, não havia requisitos legais necessários que justificassem a ação policial contra ela e a apreensão de seu aparelho celular.

Enfim, tal pressão política sobre Jair Bolsonaro ocorre porque ele sempre foi, declaradamente, avesso à vacinação contra a Covid-19.

Ele ficou conhecido por defender a não obrigatoriedade da vacina e por repetir, mais de uma vez, que ele mesmo nunca se vacinou.

O peso dessa afirmação acabou, então, recaindo sobre o fato de que ele teria fraudado seu cartão de saúde para poder entrar nos Estados Unidos no final ano passado.

Bem, para quem não se lembra, desde 2021, para entrar em território norte-americano, todos os viajantes, por via aérea, precisavam comprovar ter tomado ao menos duas doses de imunizantes contra o novo coronavírus, no mínimo 15 dias antes do embarque.

Contudo, o CDC (Center for Disease Control and Prevention), órgão regulador dessa obrigatoriedade, previa algumas exceções à regra.

Uma delas é a de que não se aplica a pessoas em viagens diplomáticas ou oficiais de governos estrangeiros, que era justamente o caso de Bolsonaro, já que a viagem dele para a Flórida ocorreu antes do fim de seu mandato,em 30 de dezembro de 2022, quando ainda possuía um visto diplomático A1, emitido pelas autoridades norte-americanas.

Outra exceção, que se aplica ao ex-presidente, é a de que menores de 18 anos também não precisariam comprovar a vacinação.

Assim, a filha do ex-presidente, Laura, que nunca tomou a vacina por decisão do pai, também não precisou apresentar seu cartão de vacinação para poder entrar nos Estados Unidos.

Então, diante disso, poderíamos dispensar qualquer reflexão sobre o interesse dele, Bolsonaro, em fraudar o sistema do Ministério da Saúde para poder entrar nos Estados Unidos.

Contudo, se houve de fato essa fraude, e isso está sendo investigado, certamente, foi feita por outras mãos.

Desse modo, para que essa história não fique mais tão modorrenta do que já está, podemos concluir que Bolsonaro não mente sobre o que declarou e que, se fala a verdade, então não deve nada e não precisa temer as investigações.

Por outro lado, se houve a fraude, que ela seja esclarecida nesse inquérito em tramitação no STF.

Fora isso, o resto não passa de puro distúrbio político entre grupos dissonantes e que, claramente, não é novidade para ninguém.

A Cruzeiro FM defende, piamente, o esclarecimento de todas as suspeitas referentes a eventuais fraudes no sistema SUS do Ministério da Saúde, porém, não concatena com as dissonâncias político-partidárias.

Que a verdade venha à tona e, de preferência, sem modorrência!!!

Cruzeiro FM, com você o tempo todo!!!