Editorial: O poder da mentira (26/08/2022)

Publicado por departamento de Jornalismo Cruzeiro FM 92,3 em 26/08/2022

Estudos de universidades do Reino Unido  e Estados Unidos já comprovaram que os usuários se engajam, promovem e viralizam mais fake news do que temas reais.

E o pior, boa parte das pessoas sabe que são falsas, mesmo assim, compartilham.

A expansão das redes sociais potencializou o acesso à informação, é verdade. Trata-se, no entanto, de informação não apurada, um campo fértil, infelizmente, à desinformação.

O poder da mentira foi destaque nesta semana de uma palestra realizada no auditório da Fundação Ubaldino do Amaral.

“Por Trás das Fake News”, promovido pelo Colégio Politécnico Sorocaba  com o professor de jiu-jitsu e escritor Ricardo Shimada, filho do casal proprietário da Escola Base – que foi vítima de uma das piores coberturas jornalísticas já feitas pela grande imprensa do País.

No começo do ano de 1994 os pais de Ricardo, donos da Escola Infantil Base, em São Paulo, foram acusados por duas mães de abusar sexualmente de seus filhos.

A acusação veio à tona após o caso ser divulgado na imprensa e causou grande comoção e repúdio público.

Passado alguns meses, o caso foi arquivado por falta de provas. Os veículos se basearam em informações sem a devida apuração, para expor a situação que não existia.

Os pais de Ricardo ficaram doentes, fugiram de tudo e de todos. O efeito foi devastador. A Escola Base destruída./ O que foi conquistado com muito trabalho, foi destruído por uma fake news.

Ricardo Shimada, então com 14 anos, viveu os piores anos de sua vida. Tornou-se um jovem agressivo, revoltado e depressivo. Precisou de anos para voltar a viver.

Após a morte dos pais começou a praticar jiu-jitsu, se apegou a religião e transformou sua vida. Foram 20 anos de lembranças e revolta.

Em entrevista ao Jornal das 5 da última quarta-feira, Ricardo afirmou que sua missão era contar a verdade às pessoas. Usar seu drama familiar e pessoal para transformar vidas. Um exemplo vivo que a mentira tem poder, e pode devastar vidas.

As notícias falsificadas ou deslocadas estão cada vez mais sofisticadas, revestidas de um rosto amigável e bem produzidas.

Hoje teve inicio a transmissão da propaganda eleitoral 2022 no rádio e TV. A campanha e candidatos estão pelas ruas. As redes sociais fervem. Notícias e ataques andam lado a lado. É preciso atenção. É preciso analisar cada notícia ou postagem.

O Tribunal Superior Eleitoral criou ferramentas para combater as fake news. Se em 1994, o caso Escola Base trouxe efeitos destrutivos, a preocupação das autoridades é que as notícias falsas tenham efeitos parecidos, respeitando o impacto de cada caso.

Com a propagação de informações sem checagem nos canais digitais, fez crescer de forma preocupante o número de notícias que não têm compromisso com a verdade e induzem interpretações errôneas.

Para diminuir essa percepção, o TSE desenvolveu junto ao WhatsApp um assistente virtual. A ferramenta foi criada para promover o acesso a informações sobre o processo eleitoral, bem como fornecer dados dos Portais do TSE e dos TREs, de forma gratuita.

As autoridades imploram para que as pessoas busquem notícias em órgãos comprometidos com a verdade. A ânsia em compartilhar um fato não apurado precisa acabar. As redes sociais não podem se transformar em uma ferramenta de disparo de mentiras.

O exemplo de Ricardo Shimada, da Escola Base, e a história de sua família mostram o quanto as fake news podem transformar, negativamente, a história das pessoas. Isso vale para o nosso dia dia. Vale também para a escolha dos nossos representantes no processo eleitoral.

Ricardo Shimada venceu a mentira. Perdoou quem acabou com sua família. Hoje vive para mostrar que a verdade é possível e, nós, vamos virar esse jogo das notícias falsas.

Chega de Fake News.

Em memória de Icushiro Shimada e Maria Aparecida Shimada.

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